sábado, 9 de julho de 2016

APETRECHO - 39





Minha tesoura é afiada, mas não corta;
Sou eu que uso o apetrecho de aço,
Como se fosse apêndice do meu braço.

A tesoura não tem mérito ou demérito,
Se corta bem, ou mal;
Uma vez que submete-se à vontade
De quem usa o instrumento para tal.

Desculpe-me o leitor;
Mas, de repente,
Ocorreu-me trocar esta introdução
Por uma introdução diferente.

Hoje, com o dia recém-iniciado,
Falou-me minha noiva: - "Estou grávida".
Retruquei: Grávida!... Como?!
Como nenhum dos dois havia desejado.

Se não desejei, se ela não desejou a gravidez,
Então, não a fizemos.
No entanto, se não fizemos, quem fez?

Então percebi que (para pagar meus pecados),
Fui usado como apetrecho reprodutor
Por um espermatozoide mal intencionado.






sexta-feira, 8 de julho de 2016

CAMINHANDO - 37




Se o universo, condescendente,
Achou por bem colocar-te num remanso,
Verás a horda esbravejando, revoltada.

Não há como agradar a essa gente.
Defeca e segue em frente.

Se a vida, de forma hostil e mesquinha,
Te impôs sucessivos percalços;
Mas os sobrepujaste, bravamente,

A gentalha invejosa se avizinha.
Evacua e caminha.


quinta-feira, 9 de junho de 2016

ENGOLIMENTOS RECÍPROCOS - 36



Dizem que o relacionamento
Entre mãe do noivo e mãe da noiva
É de cobra engolindo cobra.

Coisa que, se ocorre, literalmente,
Ambas desaparecem, nada sobra,

Porém, isto desobedeceria a norma
Que diz que, na natureza,
Nada se perde, tudo se transforma.

Deixo a lei da Física de lado,
Porque surge a questão em minha mente:
Como pode a serpente, a um só tempo, engolir
E ser engolida por outra serpente?

Poderia estar a cobra,
Naquele momento,
Tão empenhada na lida
De engolir, que não se apercebesse
De que estava, também, sendo engolida?

A letargia da cobra seria o único senão ao fato,
Pois há mútuo engolimento
Que não requer análise profunda:
Há que ter bunda dentro do calção,
Para o calção poder entrar na bunda.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

AUTO-AJUDA - 35



As únicas coisas certas no teu futuro
São velhice ou morte, ou, velhice e morte.
A perseverança pode ser uma qualidade;
Mas a teimosia é tão incômoda quanto burra
E competência não e nada, sem oportunidade.

Há que saber o momento de insistir
E a hora certa de mudar de rumo,
De seguir outro caminho, sem perder o prumo,
Enquanto é possível galgar novo porvir.

É preciso saber diferenciar o alcançável, do inatingível.
Para não despender esforço vão,
Pois o mundo não gira à mercê do teu destino.
Lembra-te de que, para que a onça consiga subir no galho,
Depende do galho, tanto quanto depende do felino.