sábado, 12 de dezembro de 2015
CONTO MAL CONTADO - 1
Era uma vez três porquinhos
De boa índole e caráter impoluto,
Ou era três vezes um porquinho,
Já que a ordem dos fatores
Não altera o produto.
Tanta altivez, careceu de contraponto
Até o dia em que apareceu um lobo.
Um lobo mau? Sim, tão mau
Quanto o lobo de qualquer outro conto.
O primeiro porco,
Ninguém sabe o porquê,
Escondeu-se numa casa de sapê.
Ora, sapê é palha,
Só vai bem em letra de canção.
E o lobo ganha sua primeira batalha
E sua primeira refeição.
O segundo porco, que fez barraco de madeira,
Logo é pego e rosna, e grunhe e berra,
Porque madeira não resiste à motosserra.
O terceiro porco,
Dos três o menos tolo,
Construiu abrigo de tijolo.
Então aparece o lobo.
À mão, banana de dinamite.
Parecia estar tudo acabado;
Mas, acredite,
De repente o céu escurece
E, mais que de repente, o clarão.
Fulminado,
O lobo morre, antes de ouvir o trovão,
Sem o porco na barriga.
Este final, estranho e inesperado,
É para que ninguém diga
(Ou pense)
Que nos meus versos o mal sempre vence.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
DANÇANDO EM L - 34
Lambada era a dança
Da moça lombuda
Que, de tanto que foi
Lambida e lambuzada,
Lambida e lambuzada,
Não mais é lembrada
Para entrar na dança.
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
FALANDO SÉRIO - 33
Às vezes penso
Sobre a vida,
Um grande mistério,
Sem lógica ou senso.
E, falando Sério,
Cada vez mais me convenço
De que a vida é tanto mais misteriosa,
Quanto mais eu penso.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
DE REPENTELHO - 32
Se na vida não fui bem,
Também não fui um fracasso.
Uns valem pelo que tem,
Eu valho pelo que faço.
Se alguém tem ódio de mim,
Que se apresente o palhaço.
E, se quiser ver meu fim,
Mostro-lhe o fim do espinhaço.
domingo, 14 de junho de 2015
MENINA DOS OLHOS - 31
Iris,
Se realmente pretendes,
O direito de ir não te nego.
Mas, saiba que serás, sempre,
A menina dos meus olhos
E que, por onde fores,
Levarás contigo,
A menina dos olhos de um cego.
sábado, 16 de maio de 2015
KAMA SUTRA - 30
Talvez precise consultar o Kama Sutra
Para saber a melhor posição na cama.
Todavia, a pior, a que causa maior drama,
Digo, de estalo, sem qualquer consulta.
Bruços é o pior entre todos os jeitos.
Seja em colchão de espuma ou de molas,
Mulher que deita de bruços amassa os peitos,
Homem que deita de bruços amassa as bolas.
sábado, 28 de março de 2015
MEMÓRIAS PÓSTUMAS ANTECIPADAS - 29
Quando morri, logo percebi
Que tudo em que acreditava era besteira.
Pensava rever minha família inteira
(Aqueles que se foram antes de mim).
Custou-me perceber que o fim é fim.
Não reconheci ninguém nem fui reconhecido,
Porque tudo que há de reconhecível é do corpo.
E corpo é matéria, com a morte degenera.
E corpo é matéria, com a morte degenera.
Assim, não vi os meus, não lhes dei um abraço.
Não os vi, porque não tinha olhos.
Braços, não os tinha. Quem me dera!
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
ARDUME - 28
Às vezes desejo que não mais volte,
O que não quer dizer que não lhe ame,
É que você chega como um tsunami,
Destruindo tudo à sua volta.
Não sei se volta por necessidade
Ou por capricho,
Só sei que vem bufando feito bicho,
Fazendo-me pecar contra a castidade.
Eu resmungo, reclamo, choro,
Finjo que detesto, quando adoro.
Quem está entre a cruz e a espada
Não diferencia a coisa certa da errada.
E vem e vai livre, desimpedida.
Mal chega, já anuncia a despedida.
Você é a pimenta da minha vida,
Se não arde na entrada, arde na saída.
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