terça-feira, 11 de novembro de 2014

AMAR É... - 27






Amar é dar amor, até não mais poder,
Na esperança de ter amor, em troca.

Amar é não ter discernimento,
É ter a razão subalterna ao sentimento.


Amar é triturar as pedras do caminho.

Amar é mergulhar na pororoca.

Amar é ignorar o que há de ser.

Amar é ter desilusões, aos feixes.


Amar é desesperar-se por estar sozinho.

Amar é cercar-se de urubus em bando.

Amar é lançar rede, até quando
Amar é não está pra peixes.





sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O BOTÃO MÁGICO - 26



Acima do vaso tem um botão
Simples e ordinário
Que, ao contrário de um botão de rosas,
Não causa admiração.
Também não causa afeição ou medo.

Mas, um simples apertar de dedo
Torná-o capaz de gerar um turbilhão
Que faz tudo desaparecer na imensidão,
Como se fosse mágica.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

PAPAI SABE TUDO - 25



Uma jovem,
Usufruindo da paterna sabedoria,
Pergunta:  - Pai, quem criou a primeira bateria?

O pai responde:
- Foi Volta, minha filha.
Alessandro Volta
Que, trabalhando com afinco,
Mergulhou em tigelas de salmoura,
Tiras de cobre e tiras de zinco.
Depois, seguindo nesta mesma trilha,
Juntou moedas de zinco e de cobre
E inventou a pilha.

- Desculpe-me pai,
Retruca a filha;
Mas não entendo,
Como pilha entrou nesta conversa.
Tudo que eu queria
Era saber quem inventou a primeira bateria:
"Primeira bateria, vira, vira, vira...".




quarta-feira, 17 de setembro de 2014

CALMARIA - 24



Na madrugada,
Quando tudo se cria
(Quem não cria, procria),
Sou muito mais pacato.

O sereno
Deixa o homem sereno.
E, homens serenos
São amenos,
A menos que lhes encham o saco.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PROVÉRBIO - 23



Um dia, um cidadão grego esculpiu
O deus Apolo em pedra sabão
E, após fazê-lo,
Passou a apedrejá-lo
Com lascas de gelo.

Acreditam alguns, que tinha a intenção
De provar que imagens não são deuses.
Outros creem que o homem mencionado
Quis, apenas, dar origem ao ditado:
"Água dura em pedra mole
Nunca bate, sem que esfole".

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

FÊNIX - 22.



Quando se imagina que a paixão jaz

Esquartejada, cremada, enterrada,
ressurge, outra vez, com força plena
Traiçoeira e voraz, tal qual hiena.

E não há valente que seja capaz

de altivez de fronte e  mente serena;
Ao contrário, treme, tomba e chora
pois, se é paixão, é avassaladora.

Filha dileta da Hidra de Lerna,
Paixão é bicho de sete cabeças
Que expele veneno enquanto hiberna.

Moléstia que se entranha e que perdura,

É próprio da paixão tornar-se vício
E, como todo vício, não ter cura.


terça-feira, 22 de julho de 2014

CAUSA E CONSEQUÊNCIA - 21



Vida é a interminável construção do passado

- Pelo menos, até que a morte a estanque.
O hoje mira o amanhã; mas apoia-se no ontem,
Sugando o que se tem de conquistado.

Colhe-se, o que se planta, diz o ditado,

Enquanto outro, bem mais conformado,
Diz "eu, que me queixava por não ter sapatos,
Encontrei um mendigo que não tinha pés".

O homem que colhe, assim como o descalço,

Representam o sucesso e o percalço.
O que foste é causa; a consequência: o que és.

NA FONTE - 20



Não gosto da cruz
Pelo que representa:
Horrenda sina,
Morte pior que forca ou guilhotina.

Porém, quando a vejo pendulando
Por entre os seios da linda menina,
Lembro de que Jesus subiu ao monte
E, depois, desceu para beber na fonte.

domingo, 6 de julho de 2014

"PERNAS, PRA QUE TE QUERO" - 19




Se perguntarem se sei
das mulheres os encantos,
Como Bocage, responderei
Sei-os.

Obviamente, desde que naturais
E, naturalmente, expostos;
Em concordância com a natureza,
Que põe os seios à frente de tudo,
Até do rosto.

Mas, aqui entre nós
(E que ninguém nos ouça),
O que me deixa realmente extasiado:
É um belo par de pernas sobre a cama
- Uma de cada lado.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

DISPARADA - 18




Montanha, vaca, vaqueiro,
Ruralíssima trindade
Do sul do Estado
Do Rio de Janeiro.

Neste mundo quase esquecido,
Onde tudo se perde e pouco se cria,
Considera-se louco varrido
O cidadão propenso a acrofobia.

Vaca e vaqueiro no cume do monte,
Desafiam e afrontam a gravidade.
Ele o faz, não por desejo seu;
Mas por ordem e "por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu".

Morreu ao despencar de enorme altura,
Sem amarras e sem capacete.
Rolou montanha abaixo, pra cacete,
Tal e qual fruta madura.

Diz o ditado que "a carne é fraca";
Porém, numa análise fria e dura,
Surge a verdade, humilhante:
O homem não vale a vaca no cume do monte
Talvez nem valha o monte no cume da vaca.





sábado, 26 de abril de 2014

UM CERTO NÃO - 17


Há quem diga que a mulher,
Em parceria com a serpente-satanás,
Induziu Adão ao pecado.
E mais:
Num desafio, inusitado,
Olhou para trás.

Acreditam seguidores do Corão,
Que o estuprador, longe de ser culpado,
É vítima do crime de sedução.

São milênios e milênios de  injúrias,
Mas a mulher nem percebe
- E, por isso, não entende.

Entretanto, já que perguntar não ofende, 
O que seria de certa religião,
Se, um certo dia,
Certa mulher,
Uma certa Maria
Tivesse dito NÃO?

quarta-feira, 9 de abril de 2014

LEI DO MAIS FORTE - 16


Que não se negue a verdade contida
No dito "mata a cobra e mostra o pau"
Porque quem mata, às vezes salva vida.

Homem é da cobra inimigo mortal
(A recíproca também é verdadeira)
Proteção de cobra é asneira
De quem não tem pomar nem tem quintal.

Sou do tempo em que homens e serpentes
Disputavam, sem hipocrisia,
Em luta de morte, seu espaço.

O mundo sempre será do mais forte,
Até que o mais forte vendaval,
Até que o mais forte tsunami,
Até que o mais forte terremoto
Transforme o mundo todo num bagaço.

ÍNDIOS -15


Lá vai o índio
Todo prosa,
Feliz da vida
Vendeu peroba rosa,

Ação por lei proibida.

Lá vai o índio, defender o ar,
"Ar" de ocupar, de reivindicar.


Lá vai o índio,
Num rompante

Nacionalista,
Cantar o hino
Numa língua em que duvido que exista
Tradução para lábaro ou retumbante.


Lá vai o índio latifundiário
Acender o baseado.

Não vê obstáculo
Em fumar com o pajé,
Seu oráculo.
Dane-se o mestiço, otário!


E o pajé
(Ora bolas!)
Nem quer saber se oráculo
Vem de hora-culo:
Pequeno orifício,
cercado de pregas,
Onde se vê as horas.


terça-feira, 1 de abril de 2014

UM DIA A CADA DIA - 14


Toda pressa
Estressa.

Deus, poderia ter feito o mundo
Em um segundo.
Preferiu fazê-lo
Em seis dias,
Sem muito zelo,
Posto que o mundo é prato cheio de cabelo.

Para criar o mundo
Em um segundo
Deus transformaria o nada,
Não obstante,
Fizesse do verbo sua varinha de fada.

Num tempo em que a palavra bastava,
A palavra de Deus era bastante.

E folgaria um dia,
E mais um dia,
E mais um dia...
Por toda eternidade.

É próprio dos deuses
Viver um dia a cada dia.
Como quem nada tem a fazer
Todo dia,
Dia após dia.

Vos digo, em verdade.

quarta-feira, 5 de março de 2014

RAPUNZEL - 13


Certa vez li o conto
Da menina muito bela 
Trocada por berinjela.

Presa na torre à beira do abismo,

Jogava as tranças ao príncipe amante
Que as usava como cordas de alpinismo.

Na escalada, some o cavalheiro

E surge o jovem frenético, afoito,
Bicho macho à procura de coito.

Ela resiste, em silêncio, ao sacrifício.

É próprio da fêmea sofrer calada,
Se tem por objetivo uma trepada.

O conto da menina Rapunzel

comprova a ineficácia da clausura.
Mulher, quando quer dar, nada segura.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

MACHOFOBIA (12)




O humorista escreveu, de sacanagem:
"Pelo andar da carruagem, chegará o dia
Em que o terceiro sexo será primeiro".
Mal sabia, que, em vez de humor, fazia profecia.

Da nova ordem, da nova mania
de exaltação ao gay, surge a fobia
- O medo de ser somente homem,
Segundo aprendi, conforme sei.

Como alquimista que a pílula doura,
Convivo com a imposição, estranha, malfadada,
Posto que espada não perfura espada,
Porque tesoura não corta tesoura.